A AIDS reduz a capacidade de defesa do organismo enfraquecendo o sistema imunológico. Como resultado, abrem-se as portas para infecções oportunistas, isto é, aquelas que se aproveitam de uma condição de maior fragilidade do organismo, como a retinopatia.
A retinopatia provocada pelo citomegalovírus (CMV) é uma dessas infecções. Trata-se de doença importante que acomete os pacientes de AIDS e requer diagnóstico e tratamento em tempo hábil, uma vez que representa risco de perda da visão, parcial ou totalmente.
Continue a leitura e descubra agora qual a relação entre a retinopatia por CMV e a AIDS.
Incidência de doenças oculares em pacientes com AIDS
O organismo humano submetido à contaminação pelo vírus HIV torna-se suscetível a uma grande diversidade de doenças. Na verdade, a maior parte é de infecções oportunistas, dentre as quais estão algumas doenças oculares.
Nesse sentido, até alguns anos atrás, as pesquisas atestavam que cerca de 75% dos pacientes de AIDS desenvolviam uma ou mais lesões oftálmicas ao longo da doença. Atualmente, com a introdução de novas drogas antirretrovirais, o percentual de danos à visão vem se reduzindo significativamente.
Essas infecções dos olhos, por sua vez, são ocorrências graves e que agem rapidamente. Nesses casos, quando não identificadas em tempo ou quando não tratadas adequadamente, podem evoluir para a perda parcial ou total da visão.
Além disso, podem se tornar portas abertas para outras ocorrências tão ou mais graves. Por essa razão, é necessário que se faça um acompanhamento constante na forma de consultas periódicas. Tanto a AIDS como as infecções oportunistas precisam ser identificadas tão logo estejam presentes.
A retinopatia por citomegalovírus (CMV) é a infecção oportunista ocular mais comum no caso de AIDS. E, mesmo com a evolução dos medicamentos atuais, segue como grande responsável por sérios distúrbios oculares.
Importância dos exames oftalmológicos
É importante saber que existem exames oftalmológicos capazes de identificar, entre outras condições, a presença da própria AIDS no indivíduo avaliado. Entre os principais está o chamado exame de fundo do olho ou oftalmoscopia.
O fundo do olho é a região da retina e de importantes elementos da visão. Assim, a oftalmoscopia permite visualizar estruturas como a mácula (região central da retina), os vasos retinianos, o nervo óptico, entre outras.
Por sua vez, o diagnóstico da retinopatia por CMV é clínico, ou seja, é feito a partir dos sintomas que o paciente apresenta e das condições observadas no exame de fundo do olho.
Um aspecto importante desse exame é que ele pode fornecer informações significativas sobre a saúde de pessoas de qualquer idade. Assim, recém-nascidos cujas respectivas mães estiveram sob infecção ao longo da gestação devem ser avaliados como rotina.
O exame de fundo do olho rotineiro é considerado preventivo para fins de diagnóstico da retinopatia por CMV. Sua indicação consta como protocolo oficial para o manejo da infecção por HIV em adultos e em crianças expostas.
Pacientes com AIDS devem ser orientados a realizar exames oftalmológicos a cada 3 ou 6 meses. Ao mesmo tempo, devem ser bem informados a respeito dos sintomas compatíveis com a infecção por CMV, como o borramento da visão, por exemplo.
Retinopatia por CMV
Pacientes com AIDS são especialmente suscetíveis à retinopatia provocada pelo CMV. Quando se encontram sob tratamentos antirretrovirais, a suscetibilidade se reduz significativamente, mas continua entre as mais graves complicações oculares desses pacientes.
A doença parece resultar de manifestação do CMV já anteriormente instalado no organismo (reativação). Nesse sentido, sabe-se que entre 60 e 90% das pessoas adultas já foram infectadas pelo CMV. Essa prevalência aumenta com a idade.
A pessoa com AIDS encontra-se com o sistema imunológico fragilizado pelo HIV. Nessa condição, o CMV consegue se manifestar, a retinopatia se instala e sua disseminação pode ser rápida e extensa.
Para o paciente, os primeiros sintomas da retinopatia por CMV podem incluir o surgimento de moscas volantes (pequenos pontos ou manchas escuras flutuantes) e embaçamento da visão após alguns dias. Como resultado, pode haver perda da visão periférica (lateral).
Quando a infecção se instala na retina pode começar a destruir parte dos tecidos (necrose), além de provocar hemorragia local e inflamação dos vasos que a irrigam. Além disso, é característica a presença de lesões esbranquiçadas cujos bordos granulares tendem a se estender para o restante da retina.
A doença pode, ainda, provocar um descolamento de retina, um dano grave que consiste na separação da retina da parte de trás do olho (fundo do olho). Nesse caso, é preciso tratamento adequado em tempo hábil, uma vez que pode resultar em perda da visão.
A transmissão do CMV se dá por meio de contato com sangue e fluidos corporais (saliva, urina). O transplante de órgãos é meio comum de transmissão do CMV.
Relação da retinopatia por CMV com a AIDS
Como se viu, a retinopatia por CMV é uma infecção oportunista, aproveitando-se das condições de fragilidade do organismo. No entanto, na maior parte dos casos, o agente etiológico (o vírus CMV) já estava presente no corpo do paciente.
Desse modo, com a suscetibilidade criada pela perda da imunidade provocada pelo vírus da AIDS, o CMV se manifesta. A doença costuma ocorrer mais comumente em pessoas já em estágios mais avançados da AIDS, nas quais a contagem de células T (células de defesa) é muito baixa.
Assim, uma vez se manifestando, a doença provoca os danos conhecidos, constituindo a retinopatia por CMV. As observações indicam que se instala em cerca de 20 a 30% dos pacientes de AIDS.
Por sua vez, do mesmo modo como acontece com a AIDS, pessoas em outras situações de imunossupressão (enfraquecimento do sistema imunológico) também são mais suscetíveis à doença. Nessa condição, por exemplo, estão os pacientes em terapia imunossupressora para câncer e leucemia.
A retinopatia por CMV, assim como a própria AIDS, possuem tratamentos efetivos que, no entanto, requerem diagnósticos precoces e o devido acompanhamento. Por essa razão, a grande importância dos exames preventivos de modo rotineiro, com visitas frequentes ao oftalmologista.
Como visto, a retinopatia por CMV pode vir no rastro das fragilidades imunológicas do paciente de AIDS. Exames oftalmológicos de rotina podem detectar suas primeiras manifestações e permitir o tratamento em tempo hábil.
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Dr. Alexandre Rosa possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará (UFPA/1996) e doutorado em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP/2005). Especialista em doenças da retina e vítreo (retinólogo) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Atualmente, é médico preceptor da residência médica do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, além de ser professor de Oftalmologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).