“Como assim, um buraco de mácula?”. Essa é a reação de estranhamento que a maioria dos pacientes manifesta ao ouvir o diagnóstico de que possuem essa doença ocular. Porém, não se trata de um problema raro.
A mácula é uma das estruturas mais nobres do olho humano. Ela fica localizada na região central da retina e está diretamente ligada à visão de cores, sendo o ponto em que enxergamos com maior nitidez.
Assim como outras partes do globo ocular, a mácula também está sujeita a algumas doenças, que podem levar a quadros de perda de visão significativos. Pensando nisso, elaboramos este artigo para explicar um pouco mais sobre o buraco de mácula. Acompanhe!
O que é o buraco de mácula?
O buraco de mácula, ou buraco macular, nada mais é do que uma pequena falha que se forma nessa região da retina. Apesar de não afetar a visão periférica, à medida que a lesão aumenta, a parte central fica desfocada, ondulada ou distorcida.
Com o tempo, uma mancha escura também pode surgir nessa região, sendo que pode ser uni ou bilateral. É mais comum que ocorra em apenas 1 dos olhos.
Quais são as causas do buraco de mácula?
Muitos fatores podem levar ao aparecimento do buraco de mácula. No entanto, alguns são mais comuns. A idade, por exemplo, é a causa principal do problema e ainda um fator que não podemos excluir.
A porção central do olho humano é preenchida por uma estrutura chamada humor vítreo, que normalmente apresenta uma certa adesão em algumas partes da retina, uma delas é na mácula. Com o envelhecimento, o vítreo desprende-se da retina, causando uma tração na região central. Geralmente, esse descolamento do vítreo ocorre sem problemas, mas em uma pequena porcentagem de pacientes pode evoluir para a formação do buraco macular.
Em geral, o problema relacionado com a idade é mais comum em mulheres com mais de 64 anos. A doença também pode ocorrer após a formação de edema (inchaço) secundário a outras doenças oculares, como:
-
retinopatia diabética;
-
edema macular após inflamação e
-
traumas que venham a afetar a retina.
O buraco de mácula também está relacionado com altos graus de miopia, causando uma degeneração no olho humano. Além disso, outra causa é a retinopatia solar, que ocorre em pacientes que passam longos períodos olhando diretamente para o sol.
Quais são os sintomas dessa doença?
Nos primeiros estágios, os sintomas podem não ser totalmente claros. Isso porque o buraco de mácula não se forma de uma hora para outra. Ele é um problema gradativo, que tende a piorar bastante com o tempo, então, no começo, pode ser praticamente assintomático.
Quando essa condição não é diagnosticada e tratada precocemente, o comprometimento se torna significativo e a pessoa começa a perceber alterações, que são similares ao da degeneração macular. A visão central torna-se distorcida e turva (como ao olhar para um vidro ondulado ou névoa).
Conforme progride, uma mancha se desenvolve na visão central e isso começa a interferir em atividades rotineiras. Ler, costurar, ver televisão e dirigir são algumas práticas que começam a ficar mais difíceis.
Também fica mais complicado ter nitidez para enxergar objetos ou pessoas a longas distâncias. Apesar disso, a visão periférica continua normal, porque, como dito, o problema afeta apenas a área central da retina.
Como essa doença evolui e leva à perda da visão, é muito importante procurar por um oftalmologista ao notar qualquer alteração na visãp. O ideal, na verdade, é que as consultas com esse profissional façam parte do seu check-up anual.
Degeneração macular x Buraco de mácula: como diferenciar?
Muitas pessoas, ao presenciarem os primeiros sintomas do buraco de mácula, pesquisam na internet e acham que estão com degeneração macular. Apesar de as manifestações desses dois problemas realmente serem similares, eles contam com muitas diferenças.
A degeneração macular ocorre quando as células sensíveis à luz, que ficam no olho humano e fazem a conversão dos raios luminosos em impulsos elétricos, começam a se degenerar.
Assim, como no caso do buraco macular, os sintomas não são percebidos nas fases iniciais da doença, apenas com o seu avanço.
Como é feito o diagnóstico do buraco de mácula?
Ao ter os primeiros sintomas, é preciso consultar um especialista para fazer o diagnóstico do problema e iniciar o tratamento, seja para degeneração macular ou para buraco de mácula.
O profissional que pode diagnosticar essa doença é o oftalmologista. O primeiro passo realizado é a dilatação da pupila, para ser feito o exame de fundo de olho ou mapeamento de retina.
Fotografia de fundo de olho (retinografia) onde observamos uma lesão arredondada central, característica do buraco macular.
Atualmente, a tomografia de coerência óptica (OCT) é um exame que permite a visualização das camadas da retina em tempo real, fornecendo imagens muito detalhadas e sendo o melhor método para diagnóstico do problema. Por meio dela, o especialista consegue estudar o buraco de mácula, sua extensão e sugerir a melhor opção de tratamento.
As medidas feitas com o OCT permitem ao médico determinar quais as chances de fechamento do buraco após a realização da cirurgia.
Tomografia da retina (OCT) passando na região macular, onde se pode observar a interrupção de continuidade.
Como é feito o tratamento do buraco de mácula?
O tratamento do buraco de mácula varia conforme a gravidade do problema. Nos casos iniciais, por exemplo, o especialista pode somente manter a observação para acompanhar se ocorreu progressão da doença. Em algumas situações, sobretudo no início, pode haver recuperação espontânea.
Porém, como nem sempre o problema é notado no começo, ele progride e, na maioria dos casos, é necessário realizar a cirurgia de vitrectomia, para promover o fechamento do buraco. Essa é a melhor opção de tratamento para essa doença.
A cirurgia é realizada através de uma pequena incisão feita na esclera, a parte branca do globo ocular. Por ali, o oftalmologista introduz equipamentos para a microcirurgia e faz a remoção do vítreo.
Sua retirada é feita com o vitreógrafo, um equipamento que aspira o vítreo. Após a remoção, é feita a extração de uma fina película que recobre a superfície interna da retina, a membrana limitante interna, um procedimento chamado peeling. Depois disso, deixa-se gás no interior do globo.
A substância injetada auxilia no processo de fechamento do buraco de mácula e na recuperação dos tecidos. O gás é absorvido pelo organismo com o tempo, variando conforme o tipo deixado. O de SF6 demora cerca de 2 semanas para ser absorvido, enquanto o de C3F8 até 4 semanas.
Nos últimos anos, houve avanços no método, que possibilitaram que a intervenção se tornasse ainda menos agressiva. Com isso, foram reduzidos os riscos de complicações ou de lesões nas estruturas oculares e tecidos.
A cirurgia é feita com leve sedação do paciente e anestesia local. Somente em casos muito específicos, é preciso adotar a anestesia geral, como para tratar as crianças. De toda forma, a alta é dada ao paciente no mesmo dia, sem necessidade de internação.
Quais são os riscos da vitrectomia?
Como qualquer cirurgia, a vitrectomia tem os seus riscos, por ser um tratamento invasivo. Eles incluem:
-
infecção ocular;
-
sangramento intraocular;
-
descolamento de retina (em que a retina se afasta da parte de trás do olho humano);
-
glaucoma (quando a pressão aumenta no olho) e
-
catarata (quando o cristalino se torna turvo).
É importante ressaltar que, para evitar essas complicações, é fundamental contar com um bom especialista para realizar a cirurgia e corrigir o buraco de mácula, além de seguir as suas recomendações durante o pós-operatório. Os cuidados assegurarão que haja uma boa recuperação.
Num período de cerca de 15 dias, é preciso manter repouso, aplicar os colírios e seguir com a rotina indicada pelo especialista. Isso inclui evitar situações que possam comprometer o tratamento, como coçar os olhos, dormir em posição errada ou promover aumento da pressão intraocular.
O tempo para restabelecimento da visão varia em cada caso. Por isso, é válido esclarecer as dúvidas com o profissional, de modo a saber o que esperar.
Tem algum sintoma? Procure um médico!
Uma das grandes dificuldades para o diagnóstico e tratamento do buraco de mácula é que muitos não percebem o surgimento do problema, já que o olho sadio compensa a dificuldade da visão.
Dessa forma, ao ter qualquer tipo de alteração na visão, é essencial agendar uma consulta com um oftalmologista para fazer uma avaliação e garantir a sua saúde. Isso evitará possíveis complicações que podem, inclusive, causar a perda da visão.
Vale ressaltar ainda que não é necessário aguardar algum incômodo na visão para procurar um médico especializado. O indicado é fazer consultas regulares para realizar exames e garantir que todas as estruturas do olho estejam funcionando como deveriam. Esse hábito é ainda mais relevante com o passar dos anos, visto que o buraco de mácula e muitos outros problemas oculares ocorrem com maior frequência em pessoas idosas.
Se você gostou desse conteúdo e deseja saber mais sobre o olho humano, suas doenças e tratamentos, nos siga no Facebook, no Instagram e no YouTube.
Dr. Alexandre Rosa possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará (UFPA/1996) e doutorado em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP/2005). Especialista em doenças da retina e vítreo (retinólogo) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Atualmente, é médico preceptor da residência médica do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, além de ser professor de Oftalmologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).