Todos os anos surgem novas pesquisas que tentam desvendar o uso de células tronco para o tratamento de diversas doenças. Uma das aplicações possíveis seria nas doenças da retina, principalmente as degenerativas, que provocam a total perda da visão.
Esse tipo de tratamento já é considerado o que há de mais moderno na área de oftalmologia, mesmo que ainda faça parte do campo da medicina experimental.
Mas você sabe o que são células-tronco e como elas poderiam ser utilizadas na retina? Continue a leitura e entenda melhor como funciona esse método de terapia.
Células-tronco o que são? Quais suas ações terapêuticas?
Existem mais de 200 tipos diferentes de células no corpo humano, que variam conforme sua localização, função e origem. Assim, temos células nervosas, ósseas, musculares, epiteliais, glandulares, entre outras. Todas elas são formadas a partir de um grupo especial, as células tronco.
As células-tronco podem formar/ originar qualquer outra célula do organismo, daí a atenção especial que elas recebem em pesquisas sobre regeneração celular. São divididas em dois tipos distintos:
Células-tronco embrionárias
São as células tronco propriamente ditas, com capacidade de se transformar em qualquer outra por meio da divisão celular. Existem apenas nos primeiros estágios de desenvolvimento do embrião. Ao nascimento, podem restar algumas no cordão umbilical, por isso existe a prática de conservá-lo após o parto.
Células-tronco somáticas
São encontradas em diversos tecidos do corpo, mesmo depois da idade adulta. Diferentemente das células tronco embrionárias, podem se transformar apenas em poucos tipos de células, com capacidade bem limitada. É o caso de células da medula óssea, que se transformam em sanguíneas, por exemplo.
Células Tronco,como elas podem ser usadas em doenças da retina?
O maior conhecimento sobre as funções das células tronco nos últimos anos possibilitou o surgimento de novos tratamentos para as doenças da retina. De modo geral, eles usam duas técnicas diferentes: a terapia regenerativa (reposição celular) e a trófica (resgate funcional).
Terapia regenerativa
Consiste na substituição da célula danificada ou morta por uma nova. Esse tipo de terapia é considerado o ideal, pois recupera totalmente a retina. No entanto, só é possível com a utilização de células tronco com alto poder de diferenciação, como é o caso das embrionárias.
Terapia trófica
No resgate funcional, são utilizadas células tronco adultas obtidas da medula óssea, de um dente de leite, do cordão umbilical ou de outra parte do corpo. São células de diferenciação mais difícil, ou seja, possuem capacidade reduzida de se transformar em outras, como as da retina.
No entanto, por diversos fatores, quando inseridas na retina, elas ajudam as células já existentes no tecido a se desenvolverem ou funcionarem melhor, com maior possibilidade de sobrevivência. Por isso, a terapia é chamada de resgate funcional.
É a técnica mais usada atualmente, devido à maior facilidade de se encontrarem células tronco adultas. Ela já é utilizada há mais de 40 anos para o tratamento de doenças hematológicas, como a leucemia.
Na retina, além da disponibilidade, a grande vantagem é que as células não são rejeitadas pelo organismo nem formam tumores, uma das grandes dificuldades no sucesso da terapia regenerativa. Ou seja, é uma técnica bastante segura e reconhecida pela comunidade médica.
O que diz a ciência sobre esse tipo de tratamento?
Mesmo com os bons resultados obtidos até agora com o uso de células-tronco no tratamento de doenças da retina, ainda há muito o que investigar. Por isso, o assunto é o foco de inúmeras pesquisas, que têm apresentado resultados promissores até agora. Todos elas buscam aumentar a eficácia na recuperação da visão, sobretudo com o uso de células embrionárias.
Em 2011, a empresa norte-americana Ocata Therapeutics realizou o primeiro teste clínico com o uso de células tronco embrionárias oculares humanas. No estudo, foram utilizadas células do epitélio pigmentado da retina, geradas em laboratório a partir das embrionárias.
Dessa forma, eles usaram uma célula já diferenciada, que não possui risco de formação de tumor, como quando se injeta a célula embrionária diretamente na retina. Os participantes do estudo tinham a doença de Stargardt que degenera a mácula em pessoas jovens. Os pacientes conseguiram uma boa recuperação da visão de modo geral.
Outros estudos também têm obtido bons resultados com células tronco embrionárias, inclusive no Brasil. No entanto, a maioria dos tratamentos resultantes apenas funciona em caráter experimental.
Nesses casos, eles ainda não foram aprovados por órgãos governamentais. Como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou pelos órgãos de classe responsáveis.
Os pacientes também podem optar por participar de estudos clínicos. Uma das últimas etapas no processo de aprovação de um medicamento ou procedimento médico.
Nessas situações, é preciso se certificar de que eles são feitos por instituições respeitáveis, como universidades, e profissionais de confiança. É necessário conferir se o estudo é registrado, assinar documentos de responsabilidade e adotar outros procedimentos legais.
A Academia Brasileira de Oftalmologia defende que as pesquisas com células tronco oferecem resultados promissores. Para ela, esse tipo de terapia pode devolver a visão a muitas pessoas com doenças da retina, da córnea e glaucoma, em um futuro próximo.
Entretanto, acredita-se que ainda seja cedo para falar na efetividade dos tratamentos aplicados na oftalmologia.
Em um comunicado publicado em 2014, o presidente da instituição na época, Rubens Belfort Jr., afirmou que não se deve criar expectativas erradas nos pacientes. Por isso, cobrou uma atitude responsável dos médicos em relação à ética e na aplicação de terapias não comprovadas.
De qualquer forma, todos os estudos com células tronco dão boas esperanças na recuperação parcial ou total da visão de pacientes com doenças da retina. Enquanto a ciência não fornece soluções praticáveis, há de se procurar alternativas de tratamento viáveis e comprovados, com a segurança adequada para os pacientes.
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo e o Conselho Brasileiro de Oftalmologia emitiram um parecer sobre o tema, clique aqui para baixar o material.
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Dr. Alexandre Rosa possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará (UFPA/1996) e doutorado em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP/2005). Especialista em doenças da retina e vítreo (retinólogo) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Atualmente, é médico preceptor da residência médica do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, além de ser professor de Oftalmologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).