A diabetes atinge, atualmente, mais de 16 milhões de pessoas no Brasil. Um dos grandes problemas é que o controle inadequado da doença pode levar a diversas complicações crônicas, como a retinopatia diabética.
Essa complicação é uma das principais causas de cegueira em pacientes com diabetes. Conheça um pouco mais sobre essa doença e saiba como ela se desenvolve, seu tratamento e formas de prevenção.
Desenvolvimento da retinopatia diabética
A retina é uma membrana localizada na parte posterior do olho, responsável por transformar o estímulo luminoso em estímulo nervoso, para que a imagem que vemos seja interpretada. A alta concentração de glicose no sangue que ocorre na diabetes causa alterações na estrutura dos vasos sanguíneos da retina. Com o tempo, essas alterações podem levar ao rompimento desses vasos, com liberação de sangue e fluidos que irão interferir na visão.
A retinopatia diabética é uma das principais causas de cegueira em indivíduos entre 20-74 anos nos países desenvolvidos. Após 20 anos de doença, a retinopatia pode ocorrer em quase 100% dos pacientes com DM tipo1 e em 60% dos DM tipo 2.
Outros fatores que contribuem para o surgimento (e agravamento) da doença são:
- tabagismo;
- hipertensão arterial; e
- colesterol alto.
Tipos de retinopatia
Existem dois tipos de retinopatia diabética:
- Retinopatia diabética não proliferativa (RDNP): É a forma mais frequente e corresponde ao estágio inicial da doença, no qual há hemorragia e vazamento de líquidos de pequenos vasos da retina, levando a um edema local.
- Retinopatia proliferativa (RDP): É o estágio mais avançado da doença, no qual áreas da retina deixam de receber sangue devido ao dano permanente nos vasos sanguíneos. Há formação de vasos anormais (chamados neovasos) que causam grandes hemorragias e algumas vezes descolamento da retina. Os neovasos podem ser identificados na fundoscopia, geralmente acompanhando a trajetória das artérias ou veias retinianas.
Sintomas e Diagnóstico
Um dos grandes riscos da retinopatia diabética é que ela geralmente não apresenta sintomas na fase inicial, de forma que a pessoa pode apenas descobri-la já na fase avançada. Por isso, é obrigatório que a pessoa com diabetes faça consulta oftalmológica periódica, para detectar qualquer alteração. Uma causa comum de queixa do paciente é quando há o acúmulo de líquido (plasma) na região central da visão, a mácula, configurando o edema de mácula.
O edema macular diabético é uma das principais consequências da retinopatia diabética não tratada. Os vasos deteriorados pela retinopatia têm sua permeabilidade aumentada, o que leva ao extravasamento de fluidos para o espaço da retina central (mácula), levando ao edema macular. A inflamação local gerada leva à liberação dos fatores pro-inflamatórios e do fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF), agravando ainda mais o edema e perda da visão central.No estágio mais avançado da doença, surgem sintomas como:
- visão turva;
- manchas na visão;
- perda da visão periférica ou central; e
- visão distorcida.
Fatores de Risco
Em relação aos fatores de risco de uma forma geral, destacamos o hiperglicemia, hipertensão arterial, necessidade de uso de insulina, tempo de evolução da diabetes, acometimento renal, puberdade, gravidez e dislipidemia (aumento de colesterol e/ou triglicerideos) associada.
Os principais fatores associados ao aparecimento e evolução da retinopatia diabética são o tempo de doença e o mau controle glicêmico. Estudos demonstraram que o controle glicêmico rígido associado ao controle da pressão arterial, reduz a incidência e a progressão da retinopatia diabética.
Diagnóstico
A fundoscopia ou exame do fundo de olho é indicada em todo paciente com diabetes tipo 1 após 5 anos de doença, e em todos os pacientes com diabetes tipo 2 logo que for diagnosticado. A partir do primeiro exame, deve ser repetida anualmente para aqueles sem retinopatia e semestralmente, no mínimo, para aqueles com retinopatia diabética.
O diagnóstico é feito por médico oftalmologista, por meio de exames especializados como fundo de olho ou mapeamento da retina, angiofluoresceinografia e tomografia de coerência óptica (OCT). Esses exames permitem uma observação detalhada da retina e visualização de possíveis alterações.
Tratamento e Prevenção
É importante ressaltar que a retinopatia diabética é uma doença que não tem cura. No entanto, se descoberta na fase inicial e tratada de forma adequada, a perda da visão pode ser diminuída.
Os principais tratamentos para a doença são:
- Tratamento com laser: é feita uma fotocoagulação com o laser que causa diminuição do edema local e destruição dos vasos sanguíneos anormais;
- Tratamento com medicamentos de uso intra-ocular: são utilizados medicamentos anti-inflamatórios (corticoides) e/ou medicamentos anti-angiogênicos para diminuir o edema e a proliferação dos neovasos.
- Vitrectomia: cirurgia realizada em casos avançados da doença, sobretudo quando há hemorragia do humor vítreo ou descolamento de retina.
A saúde ocular deve ser uma preocupação diária, não só para os diabéticos, e sim para todos. A prevenção e a detecção precoce da retinopatia diabética são os principais aliados para evitar a perda de visão. É necessário fazer um controle rigoroso da glicose no sangue e se consultar regularmente com oftalmologista, se possível fazer uma avaliação com médico retinólogo. Além disso, prevenir também os fatores de risco que aumentam a chance de retinopatia, citados anteriormente.
O controle da diabetes
A diabetes resulta de uma disfunção metabólica do corpo: a regulagem dos teores de glicose (açúcar) no sangue não funciona adequadamente. Como resultado, o diabético apresenta níveis muito elevados desse açúcar (glicemia) no plasma sanguíneo.
Para a condução de um controle adequado, é preciso que o paciente considere 5 frentes:
- alimentação;
- atividade física;
- medicação;
- automonitoramento;
- educação em diabetes.
Portanto, o paciente diabético deve ser bastante cuidadoso com seus hábitos, sua dieta e a prática de atividade física adequada. Ao mesmo tempo, que deve ser muito preciso com sua medicação. Finalmente, deve procurar sempre aprender mais sobre a doença com a qual deve conviver por toda a vida e sempre proceder ao monitoramento dos níveis de glicose em seu sangue.
Alimentação
Os hábitos alimentares do portador de diabetes devem ser muito regulares e orientados por nutricionista. Entre esses hábitos, destacam-se:
- adoção de horários regulares para as refeições;
- refeições menores, a cada 3 horas;
- eliminação do excesso de doces, refrigerantes e frituras;
- redução do consumo de gorduras animais;
- redução do consumo de sal;
- redução do consumo de bebidas alcoólicas.
Atividade física
A prática diária de atividades físicas deve estar adequada ao biótipo e à idade do paciente.
É importante que a atividade física seja prazerosa e não mais um sacrifício. Assim, evita-se o abandono.
Os principais benefícios da atividade física para diabéticos podem ser assim resumidos:
- promove a absorção de glicose pelos músculos;
- aumenta a sensibilidade das células à ação da insulina (hormônio que controla os níveis de glicose no sangue);
- auxilia na redução e manutenção do peso corporal;
- auxilia no controle da pressão arterial;
- melhora as funções cardíacas.
Medicação
Se o médico receitou algum medicamento para o tratamento da diabetes, o paciente deve seguir estritamente as recomendações médicas. Na ocorrência de qualquer efeito colateral, também o médico deve ser procurado e informado imediatamente.
Nesse sentido, a dosagem e os horários devem ser seguidos com responsabilidade. Por outro lado, não se deve deixar de utilizar a medicação recomendada em razão da falta de sintomas.
Automonitoramento
Um dos princípios da gestão administrativa afirma que “só se controla aquilo que se mede”. Esse princípio se aplica perfeitamente ao controle da diabetes. O paciente diabético deve permanentemente realizar medições dos níveis de glicose em seu sangue.
Desse modo, pode observar o efeito dos 3 principais fatores que afetam sua glicemia: a medicação, a alimentação e a atividade física.
Educação em diabetes
Para tratar é preciso conhecer. Assim, o paciente diabético deve procurar se manter informado sobre a doença, e também sobre suas próprias condições a partir do automonitoramento.
Cada pessoa apresenta respostas diferentes à doença, assim como ao tratamento. Por essa razão, quanto mais informado sobre o comportamento da doença e sobre as respostas aos fatores que interferem nos níveis glicêmicos, mais facilmente poderá adequar-se para manter o controle.
A importância da consulta com o retinólogo
Paciente com diabetes devem consultar-se com um retinólogo (médico oftalmologista especialista em retina e vítreo) com regularidade. Na verdade, é essencial que haja esse acompanhamento.
Ainda que a diabetes esteja controlada e que o paciente não perceba qualquer sintoma em sua vista, a consulta com o retinólogo deve ser mantida de forma regular. Apenas esse profissional pode perceber o início de qualquer alteração na retina e na mácula. Assim, não deve haver descuido nesse acompanhamento.
A descoberta da retinopatia de forma precoce permite que ela seja controlada. Em geral, o tratamento consiste de fotocoagulação a laser, injeções intravítreas de medicamentos e vitrectomia, mas não necessariamente o paciente irá realizar os três.
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Dr. Alexandre Rosa possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará (UFPA/1996) e doutorado em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP/2005). Especialista em doenças da retina e vítreo (retinólogo) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Atualmente, é médico preceptor da residência médica do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, além de ser professor de Oftalmologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).