A visão é um sentido fundamental. Qualquer alteração na capacidade de enxergar, principalmente em pacientes com doenças da retina, como ocorre na visão subnormal, limita as atividades cotidianas, como ler, costurar, entre outras.
Nesse sentido, a baixa visão reduz a qualidade de vida, expondo inclusive à riscos de acidentes. É possível superar essas dificuldades com diferentes recursos.
Para um melhor entendimento do assunto, elaboramos este artigo com informações sobre os principais aspectos da baixa acuidade visual e o que pode ser feito para contornar esse problema. Continue a leitura!
A visão subnormal (VSN)
Existem situações onde a medicina encontra um limite na capacidade de curar uma doença. E o impacto das sequelas de doenças da retina e da visão podem afetar o cotidiano, tanto emocionalmente pelo receio de cegueira, como fisicamente, limitando as atividades de trabalho e lazer dos pacientes. Perder a visão não pode significar desistir de fazer as coisas que mais gosta ou precisa, mas aprender jeitos diferentes de realizar estas atividades.
Muitas vezes as doenças, como a degeneração macular relacionada à idade, o descolamento de retina, a retinopatia diabética, retinose pigmentar e glaucoma avançado, podem provocam limitações como a capacidade de usar celular, um tablet ou computadores. Embora seja mais comum em pessoas idosas, esse déficit pode afetar qualquer idade. Em crianças, as principais causas são congênitas. A prematuridade em bebês também pode gerar deficiências visuais e induzir a visão subnormal.
A visão subnormal é considerada uma deficiência na função visual que persiste após o tratamento ou tentativa de correção com uso de óculos, lentes de contato ou implantação de lentes intraoculares após cirurgia de catarata.
Essa alteração não deve ser confundida com a cegueira, que é a perda total da visão. Ainda que reduzida, a baixa acuidade visual apresenta uma capacidade visual de 20% (ou menos) da visão normal. Além de diminuir a nitidez de objetos, essa condição pode provocar uma visão afunilada (como se enxergasse por um tubo), com a redução da visão periférica (lateral). Pode ocorrer ainda uma mancha escura na visão central, quando a pessoa tenta fixar o olhar em um objeto, o que significa a ausência ou diminuição da visão central.
Para contornar essas limitações, os pacientes podem utilizar dicas e estratégias de uso da iluminação, do contraste das coisas, do aumento do tamanho (magnificação) das coisas. As câmeras dos celulares e aplicativos especiais, podem ser utilizados para aumentar a imagem e a capacidade de leitura, ajudando a identificar objetos e cores, ou ainda rótulos de produtos.
A função visual
- A visão central: é aquela que permite visualizarmos os detalhes das coisas, os rostos das pessoas, a capacidade de leitura e ler legendas na televisão. Doenças como descolamento de retina e retinopatia diabética podem afetar tanto a visão central como a periférica. Já a degeneração macular (DMRI) afeta intensamente a visão central, preservando a visão periférica.
- A visão periférica: é nossa visão lateral, aquela ao redor da nossa área de atenção principal. Ela não nos fornece detalhes ou capacidade de ler, mas é muito importante na nosso locomoção e capacidade de subir escadas ou dirigir veículos. Doenças como a retinose pigmentar ou glaucoma costumam ameaça gravemente a visão periférica. Algumas doenças neurológicas ou cerebrais podem afetar a visão periférica também.
- A visão monocular: é aquela onde perdemos de forma acentuada a visão de um dos olhos e praticamente temos apenas um olho funcionando adequadamente. Com isso perdemos a nossa noção de profundidade e distância (estereopsia), dificultando tarefas como subir degraus de escadas ou desníveis.
Avaliação da função visual e como superar as limitações da baixa visão
As pessoas que sentem muita dificuldade em enxergar precisam ser avaliadas por um oftalmologista para análise da função visual. Muitas vezes, há necessidade de consulta com especialista em visão subnormal que possui equipamentos e exames que auxiliam no diagnóstico e reabilitação visual de cada situação. A partir dessa avaliação, é possível identificar como o paciente utiliza a visão residual (capacidade de enxergar que restou) para interagir com o ambiente e definir tipos de auxílios para potencializá-la.
“Doutor, estou perdendo a visão”
A experiencia de perder a visão traz angustia, raiva e frustração. Frequentemente, outras alterações emocionais, como depressão e ansiedade, acompanham os pacientes com déficit visual. Viver com a depressão é uma tarefa terrível. Mas é possível conviver com o déficit visual, se entendermos o que ele representa, quais as limitações causadas e as estratégias de atenuar essas limitações. Terapia e suporte emocional são essenciais na qualidade de vida de quem tem uma doença ocular grave. Você não se resume a sua visão. Seu valor e o valor que você tem para as outras pessoas, valem o esforço de procurar tirar o máximo possível do seu déficit visual, utilizando estratégias de baixa visão e visão subnormal.
“Doutor, estou vendo imagens de coisas que não existem!”
A síndrome de Charles Bonnet é uma situação onde temos uma “visão fantasma”, muito similar à dor fantasma de quem perde um membro do corpo, onde a pessoa sente o braço, dor ou formigamentos no braço , mesmo sabendo que ja foi amputado. Cerca de 20 a 30% das pessoas com déficit visual experimentam a sensação de ver imagens ou coisas, repetidamente, mesmo sabendo que não existem. Essas imagens tem origem no cérebro e podem ter a forma de pessoas, coisas ou animais, e não representam nenhuma disfunção na capacidade mental ou envelhecimento acelerado da mente, Alzheimer ou insanidade.
Tipos de reabilitação visual
É possível superar essas dificuldades com recursos ópticos indicados por médicos oftalmologistas e que ajudam as pessoas a ficarem mais independentes e melhorarem a qualidade de vida. Veja a seguir quais são:
- óculos com lente de aumento — bem mais fortes que os óculos de grau comuns. Para utilizá-los, o objeto de leitura deve ficar bem próximo aos olhos;
- lupas manuais — instrumentos com capacidade de aumentar muitas vezes o tamanho dos objetos. Podem ser encontradas em vários modelos, tamanhos e pesos;
- telelupas — ampliam as imagens distantes. Para serem manipuladas ou acopladas aos óculos de leitura;
- circuito fechado de televisão — amplia a imagem através de um sistema de televisão. Também permite aumentar ou diminuir o contraste de acordo com as necessidades;
- prismas — instrumentos com capacidade de mover as imagens do campo visual afetado para outro saudável.
Além desses recursos ópticos, é importante entender e utilizar algumas dicas para facilitar o dia-a-dia como a seguir:
Use a melhor parte próxima da sua visão central: A visão central pode ser afetadas por doenças da retina em intensidades diferentes. Geralmente, estes pacientes percebem uma mancha escura na visão central ou ainda uma ausência de parte da visão central que chamamos de escotomas. Os escotomas podem afetar nossa capacidade de leitura, dificultando ler continuamente uma linha de texto, onde o paciente “se perde”durante a leitura de um texto. Porem células ao lado da visão central também tem capacidade de enxergar. Este é o desafio: se adaptar ao uso da visão ao redor da central é um desafio. A dica é: O paciente precisa se concentrar nas imagens ligeiramente “ao lado” da visão central ou mancha, utilizando as células que não foram afetadas pela doença. Durante a leitura , o uso de uma lupa ou uma régua simples ou régua de aumento, podem ajudar a se manter na linha de textos.
Aumente o brilho das coisas: use abajures articulados durante a leitura ou trabalhos manuais, ou leve uma lanterna sempre com você! Lembre-se que muitos celulares também funcionam como lanternas.
Reduza o ofuscamento: superfícies que brilham e refletem em demasia atrapalham a visão. Reduza a exposição a estas superfícies no ambiente doméstico. Use óculos com lentes coloridas tipo âmbar ou amarela em óculos ou acessórios tipo clip on. Bonés ou viseiras também ajudam tanto em ambientes externos quanto dentro de casa.
Aumente o contraste das coisas: use canetas de cor pretas e não azul! O preto com fundo branco aumenta o contraste. As canetas rollerball (cuja tinta é a base de água, e penetra melhor nas fibras do papel), são uma evolução da esferográfica e tem melhor desempenho e contraste. O uso de canetas pretas tipo hidrocor também podem ser bastante úteis. Quando for assinar um documento, desenhe uma linha preta com auxilio de uma régua, no lugar onde vai assinar. No utensílios domésticos, aproveite para ressaltar sempre os contrastes, como uma toalha de mesa mais escura com pratos mais brancos, xícara branca para contrastar com o café, que tem cor preta.
Chegue mais perto: sente mais perto da televisão ou fique mais perto das coisas que quer ver. Aumente: procure adquirir objetos que tenham tamanho aumentado: controle remoto, calendários, tablets, teclados, celulares. Existe uma variedade de objetos que podem ser comprados com tamanho aumentado. Aumente a fonte de seu celular, monitor e tablet. Use televisões maiores (42 polegadas por exemplo) para conectar seu computador. Existem dispositivos, como apple tv ou google cast) que conectam seu celular ou tablet numa televisão, sem necessidade de fio. Tablets podem ser usados para ler jornais, revistas e livros, com maior fonte e contraste. Lupas de mão iluminadas portáteis ajudam a ver preços, rótulos e cardápios. Existem lupas montadas em suportes que ajudam a magnificar uma área maior.
Use mais a audição: hoje é possível adquirir audio livros dos mais diversos temas. Computadores, tablets e celulares possuem dispositivos de recursos de audio para auxilio às limitações visuais. Até relógios que “falam” as horas ou óculos que fazem leitura podem ser adquiridos.
Evite o isolamento social: não hesite em pedir ajuda a amigos. Mantenha o seu grupo social. Eles te ajudarão com maior prazer. Leva sempre sua lupa portátil ou seu tablet junto.
Mantenha o animo: todos, paciente e família, deve lutar para manter o melhor estado de espírito possível. O paciente deve ser auxiliado a fazer o máximo possível independentemente Reconheça a deficiência e seus desafios e ofereça auxilio, mas não realize as tarefas por ele. Faca as adaptações necessárias para que eles as realize independentemente
Conforme vimos, embora a visão subnormal limite as atividades das pessoas, é possível superar as dificuldades com a utilização de recursos óticos e a adoção de hábitos que facilitem o aumento dos objetos. A aplicação de tais recursos pode contribuir de maneira eficaz para uma maior independência e melhoria da qualidade de vida.
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Texto em produzido pelo Prof. Dr Vitor Cortizo: Médico especialista em doenças da retina e do vítreo, doutorado pela Universidade de São Paulo, Professor da Universidade Estadual do Piauí, e atua em Teresina, Piauí. www.vitorcortizo.com
Dr. Alexandre Rosa possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará (UFPA/1996) e doutorado em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP/2005). Especialista em doenças da retina e vítreo (retinólogo) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Atualmente, é médico preceptor da residência médica do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, além de ser professor de Oftalmologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).